Celso Loducca: “poucas marcas compreenderam que um país mais igualitário é um país mais próspero”  

Um dos criativos mais reconhecidos do Brasil, Celso Loducca passou por agências como Ogilvy, Young & Rubicam, Talent e W/Brasil, até tornar-se vice-presidente e Diretor de Criação da FCB. Depois criou sua própria agência, a Loducca (primeiro LoweLoducca), um sucesso absoluto, vendendo sua participação em 2015.

Com formação eclética — estudou Física, Química, Biologia, Psicologia, Engenharia e Comunicação, ainda que não tenha concluído os cursos, como enfatiza —, Celso desenvolveu uma apurada visão cultural e social. Sempre propôs o diálogo e a construção de um mundo mais igualitário e justo.

Atuando em conselhos de administração e ONGs, hoje Celso Loducca é sócio do Ventre Studio, além de membro do Hall da Fama da Abramark. Confira suas respostas para nossas cinco perguntas dessa semana.

Abramark Como tem sido sua atuação no Ventre Studio? Conte para nós um pouco sobre essa iniciativa criativa e seu impacto no mercado de produção de conteúdo.   

CL O Ventre Studio nasceu com um propósito de gerar e/ou gestar e/ou realizar estórias/histórias que contam o Brasil para o Brasil e para o mundo. Como nascemos no início da pandemia(!!!!), tivemos a oportunidade de criar e amadurecer projetos que nos orgulham muito e alguns estão em diferentes fases de produção: com a Warner Brothers, estamos fazendo o maior projeto da América Latina, uma saga em formato de super-heróis dos orixás afro-brasileiros que será dirigida pelo Carlos Saldanha; com a Disney estamos muito próximos de começar a filmagem do clássico livro 100 dias, de Amir Klink, com Rodrigo Santoro no papel principal; acabamos de filmar a série com coprodução internacional entre Canal Brasil, TVI portuguesa e Coral Europa: “Os últimos dias de Abadiânia”, com Marco Nanini no papel de João de Deus (sem Deus?); uma série sobre a Amazônia, baseada nas reportagens de João Moreira Sales na revista Piauí; levantamos um set com 700 pessoas para um filme com Jean Reno em Ubatuba; e mais uma dezena (mesmo) que não cabe ficar elencando aqui. Quanto a minha atuação, vou ficar no universo cinematográfico para tentar delinear o que faço: tenho sócios muito experientes, apesar de jovens, que chamo de Jedi’s. Eu tento ser o Yoda.

Abramark Você tem um envolvimento já reconhecido com causas sociais, educacionais e de desenvolvimento humano, como a Casa do Saber, Parceiros da Educação, entre outras. Acha que o brasileiro é solidário e que nossas empresas têm cumprido corretamente seu papel nesse sentido?

CL Acredito que em um país tão desigual quanto o Brasil (segundo o IBGE em 2021, 71,9 milhões de pessoas viviam na pobreza, 62,9 milhões viviam com renda per capta de até R$ 497,00 por mês — sendo que desses, 15,5 milhões com até R$ 172,00 MENSAIS!). Não consigo compreender quando alguém, como eu, que teve o “privilégio” (entre aspas porque aqui é privilégio e não direito) de estudar e comer suficientemente não se envolver com a busca de mais justiça social. Infelizmente vejo uma grande maioria dos poucos privilegiados completamente ausente dessas atividades ou presente de forma a aliviar sua consciência e/ou mascarar/apagar a forma como chegou ou se mantém nos 1% mais ricos. Mas ainda acredito que boa parte das pessoas mantém o espírito de compaixão e solidariedade, um pouco adormecido nos últimos tempos, mas isso está na resposta de outra pergunta. Já as marcas, com raras e sinceras exceções, se contentam em parecer ao invés de ser. Estas serão punidas à medida que sociedade aumentar a consciência e diminuir sua tolerância com estes embustes.

Abramark – Você se tornou uma referência no debate de assuntos filosóficos e das relações humanas graças ao programa que manteve na Rádio Eldorado por muitos anos. Nesse contexto, impossível não perguntarmos: como você avalia a polarização, a rixa exagerada, nem sempre fundamentada, que tomou conta da sociedade brasileira (e mundial) nos últimos anos?

CL O Brasil e o mundo têm passado por momentos difíceis e, na minha opinião, existir polos não é o problema, mas sim a existência institucional de um polo que quer eliminar todos os outros polos. Isso sim é um perigo. Diversidade de opiniões, felizmente, é uma das melhores características desse animal humano. E discuti-las com civilidade também. O que tem acontecido é que praticas consideradas marginais e amalucadas no pós-segunda guerra voltaram a fazer parte do nosso dia a dia, como já foram, lamentavelmente, no entreguerras do século XX. Sabemos como acabam.

Espertinhos e irresponsáveis se aproveitam da angústia justificada da população mundial que se vê sem perspectiva para o futuro e apresentam saídas simples e falsas através, por coincidência, deles mesmos, que passa por inventar inimigos (comunistas, judeus, sociedades secretas, etc.) e a eliminação completa destes como solução.

Como humanidade já vivemos isso antes e deveríamos reagir fortemente a esses movimentos logo que nascem. Infelizmente alguns cresceram mais do que deveriam e infectaram muitas pessoas, inclusive as de boa vontade. Precisamos voltar urgentemente à normalidade, com todas suas divergências e dificuldades. A alternativa é muito pior.

Abramark Na sua opinião, as marcas têm lidado com esses temas mais sensíveis “e divisores” de maneira criativa, educadora e bem-sucedida?

CL Difícil falar “as marcas” já que algumas poucas compreenderam que um país mais igualitário é um país mais próspero. Já outras acham que está tudo bem como está e até financiam movimentos para um retrocesso. Mas marcas como Magalu, por exemplo, mostram que o caminho da inclusão e da diversidade é o presente e o futuro da relação entre marcas e pessoas.

Abramark Que conselhos ou dicas deixa para os estudantes e novos profissionais de propaganda e marketing que desejam prosperar, crescer e deixar um legado?

CL Acho que o título (emprestado de uma frase de Oscar Niemeyer quando perguntado sobre seu legado na arquitetura) do livro que a editora Trip fez da trajetória da Loducca, uma agência que existiu até 2015, resume o que eu poderia dizer: O importante é a vida.

Estar presente em cada momento e tirar dele o máximo de conhecimento possível é a melhor fonte de uma trajetória única.

#Abramark, #Marketing, #Criativos, #Publicidade

 

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