Abel Reis: “Essa transição não será sem dor. Milhões e milhões de pessoas deverão ser retreinadas”

Profissional inicialmente atuante no setor de Tecnologia da Informação, Abel Reis tem escrito uma importante história na comunicação brasileira. Ingressou nesse mercado no início dos anos 1990, alcançando a vice-presidência da Midialog. Já em 1999, cofundou a primeira a agência digital do Brasil, a AgênciaClick, ao lado do acadêmico da Abramark Pedro Cabral.

Em 2007, quando a AgênciaClick foi vendida para os ingleses da Isobar, Abel seguiu na empresa e ficou na presidência da agência e com o cargo de COO da Isobar Brasil. Isso até abril de 2014, quando em uma nova consolidação, assumiu a posição de CEO da Isobar Latam e CEO da Dentsu Aegis Brasil, onde permaneceu até 2019.

Autor do livro “Sociedade.Com”, além de articulista, professor e pesquisador, Abel Reis é formado em Filosofia e Informática, é M.Sc. em Engenharia de Sistemas e Computação pela UFRJ, e Doutorando em Filosofia pela PUC-SP. Em 2019, cofundou a Logun Ventures, escritório de consultoria, projetos e investimentos em empresas.

Tudo isso e muito mais o credenciou para o Hall da Fama do marketing brasileiro, proporcionando as sábias respostas nas linhas abaixo. Confira!

Abramark – Conte para nós um pouco sobre a Logun e os desafios atuais que tem enfrentado.

AR – A Logun posiciona-se como um escritório de investimentos e consultoria. Atuamos junto a startups ou empresas de serviços de marketing. Empresas iniciantes, aceleramos. Já as empresas mais maduras apoiamos como conselheiros nos processos de turnaround financeiro ou de portfólio de produtos e serviços.

Na frente de consultoria criamos o iGNITE, um programa de gestão e potencialização voltado a pequenas e médias agências de propaganda, com ênfase em inovação, finanças, pessoas e processos. O Brasil tem muitas agências talentosas locais ou regionais, que podem se beneficiar da expertise e experiência dos sócios da Logun.

Estamos muito felizes com o que construímos nesses 3 anos de operação, levando em conta que no meio do caminho houve uma pandemia. Montamos um portfólio de oito investidas de grande potencial ao lado de uma vigorosa carteira de agências de propaganda a quem apoiamos via nosso programa iGNITE.

Abramark – Você possui muitas formações acadêmicas, que trabalham skills bastante distintas. Isso foi construído de forma planejada, de acordo com as demandas e desafios que recebeu, ou simplesmente buscou aprofundamento naquilo que lhe fazia sentido e traria alguma realização pessoal superior à conquista do diploma em si?

AR – Comecei minha trajetória acadêmica na Filosofia porque tinha muito interesse na forma como os filósofos fazem perguntas relevantes. Estudando Filosofia, conheci a Lógica Matemática e quase ao mesmo tempo a Ciência da Computação. Foi quando decidi que gostaria de me aprofundar na Informática. Fiz uma graduação na área, e fiz o Mestrado na UFRJ em Engenharia de Computação com foco em Inteligência Artificial ─ o que hoje me ajuda bastante a navegar no mais recente desafio tecnológico que todos estamos enfrentando, a IA.

Um acaso favorável me levou à área de Publicidade, onde eu e Pedro Cabral nos tornamos fundadores e sócios da lendária AgênciaClick. Foi na área de Publicidade, em especial, a Digital que coloquei meu repertório de Filosofia e de Computação para funcionar. Eu aliava o espírito questionador dos filósofos ao pragmatismo dos engenheiros. E foi assim que investi 25 anos da vida como empreendedor e depois executivo de grupos internacionais (na Aegis Media e depois na Dentsu International) ajudando o mercado brasileiro a inovar em comunicação digital, tentando honrar a tradição e conquistas dos grandes mestres da Publicidade brasileira, muitos destes já reconhecidos e homenageados na Abramark.

Gosto de estudar e gosto de olhar os problemas da vida real a partir de um ponto de vista conceitual. Por isso ingressei no Doutorado em Filosofia na PUC-SP para estudar Filosofia da técnica e da mídia, pois quero pensar o desafio da propaganda desde a sua raiz. Em paralelo, colaboro com o Instituto de Estudos Avançados da USP na área de Algoritmos e Humanidades.

Abramark – Ainda vivemos num ambiente político conturbado e polarizado, com pouco espaço para discussão de ideias e soluções, e muitas acusações, ofensas. De alguma maneira, uns mais outros menos, grande parte dos brasileiros vive e se vê cercada por todos os lados por uma lama de acusações (pseudo) ideológicas, fake news, fantasmas do passado, corrupção etc. Como cidadão, como você avalia esse momento? O que acha que podemos fazer, como sociedade, para virarmos essa página e avançar?

AR – O Brasil por razões diversas que não cabe aqui explorar, tornou-se uma espécie de campo de experimentos dos embates políticos e ideológicos nas redes sociais. Os brasileiros se expressam e se informam pelas redes em uma escala e de forma criativa e apaixonada talvez sem equivalente no mundo. A força da cultura dos memes a meu ver é um exemplo disso.

O fato é que redes sociais são ambientes de propagação ─ para o bem e para o mal. Não me incomoda o debate apaixonado porque isso é da natureza da vida democrática. O que incomoda são as ofensas grosseiras e as mentiras coloridas das fake news. Mas o que é impossível aceitar mesmo é a ausência de mecanismos ágeis de prevenção, acompanhamento e eliminação de conteúdo mentiroso ou grotesco, por parte das plataformas. Os mecanismos legais clássicos não dão conta da velocidade e impacto da circulação desses conteúdos. Isso requer uma profunda revisão regulatória de práticas e processos de gestão das plataformas de redes. E nisso o Brasil pode, mais uma vez, ser inovador na cena global.

Abramark – Quase todas a conversas atuais com líderes empresariais desembocam no ChatGPT e o uso cada maior da inteligência artificial, o que parece ser algo inexorável. Como você enxerga esses avanços e como projeta o uso racional ─ se é que isso é possível ─ dessa tecnologia?

AR – A presença de sistemas de IA na vida dos consumidores, e dos negócios, é sim inexorável. Isso tem a ver com o desafio de entregar cada vez mais conveniência e melhor experiência para clientes, e obter ganhos de escala e escopo na operação das empresas.

Será um desafio enorme para governos e sociedades porque ao lado das questões éticas e legais, há o tema das ocupações e profissões que serão extintas e das outras tantas que serão criadas. Essa transição não será sem dor. Milhões e milhões de pessoas deverão ser retreinadas, em todos os mercados, em novas habilidades para que tenham oportunidades na economia 4.0.

O mercado de mídia e comunicação será obviamente impactado, mas talvez em menor grau porque o que criamos é feito por humanos, para humanos.

Abramark – Que conselhos ou dicas deixa para estudantes e novos(as) profissionais de comunicação e marketing que desejam prosperar, crescer e deixar um legado?

AR – Estudem humanidades ─ filosofia, psicologia, antropologia, sociologia. Estudem e compreendam em profundidade aquilo que nos faz humanos, o que nos emociona e aciona. Sejam empáticos. Sejam colaborativos. Como eu costumo dizer: o antídoto para a “artificialização” da inteligência e seus riscos, é a autenticidade, a empatia e a confiança.

#Abramark, #Marketing, #LogunVentures

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